Esse é o primeiro ano em que doações de empresas estão proibidas nas campanhas eleitorais. Isso criou a necessidade de muitos candidatos reinventarem a arrecadação de suas campanhas. De onde está vindo o dinheiro?
Algumas campanhas – a exemplo da de Marcelo Freixo no RJ – estão apostando nas doações de pessoa física pela Internet. Todas podem ainda receber repasses dos partidos, que por sua vez recebem dinheiro do governo através do fundo partidário. Ou mesmo recursos da fortuna do próprio candidato.
Que candidaturas são construídas sobre que tipo de dinheiro?
Começando na cidade em que moro, resolvi ver nos dados que o TSE disponibiliza qual a origem do arrecadado por cada candidato a prefeito. Até 25-09-2016, eis a origem da verba de cada candidato:
Uma primeira coisa que salta aos olhos é que Veneziano declarou ter arrecadado o dobro do segundo candidato que mais arrecadou.
Além disso, essa diferença acontece principalmente porque Veneziano doou mais de R$ 400 mil à própria campanha. Uma das maiores doações inclusive é um depósito de R$ 169 mil em espécie. Essa é uma doação bem notável: é a maior auto-doação na PB, é mais que o dobro da segunda na PB, só há uma doação de recursos próprios maior que essa em todas as campanhas de Pernambuco, e há apenas uma doação em espécie maior que essa no Nordeste – em Caxias, no Maranhão.
Voltando o foco a Campina Grande, constatamos que aqui todos os candidatos investem muito dinheiro próprio na eleição. Eis os dez maiores doadores com recursos próprios da Paraíba, e repare que quatro dos dez maiores são em Campina Grande:
Olhando de onde a maior parte da verba de cada candidato veio, percebemos que a candidatura de Romero tem a maior parte de sua verba vinda diretamenteo do PSDB. Veneziano também recebeu um grande repasse do PMDB, enquanto Adriano e Bolinha não declararam ter recebido verba de seus partidos:
Em contrapartida, Adriano e Bolinha são os candidatos cujas campanhas aparentemente estão mais financiadas por pessoas físicas. Curiosamente, contudo, apenas 7 pessoas realmente doaram verba para Artur Bolinha, enquanto 27 doaram para Adriano. O restante do recurso arrecadado foi todo na forma de serviços e bens cedidos para a campanha.
Em João Pessoa, apenas três candidatos já relataram sua arrecadação para o TSE, e a lógica do financiamento funciona bem diferente de Campina Grande.
Primeiro, apenas um dos candidatos declarou ter usado recursos próprios: Luciano Cartaxo. E mesmo assim, ele doou apenas R$ 20 mil em verba. Quatro vezes menos do que quem menos doou a si próprio em Campina Grande. O restante do recurso próprio na realidade é de Manoel Júnior, e em serviços.
Para dois dos candidatos, os partidos são também responsáveis pela maior parte da verba nas campanhas. Diferente de Campina Grande, o PSB é responsável por uma enorme parte da receita de Cida Ramos, e o PT por toda a verba declarada por Prof. Charliton.
Luciano Cartaxo, por sua vez, tem a maior parte de seu apoio financeiro em pessoas físicas, e Cida também recebeu bastante de pessoas físicas.
Como pessoas físicas podem doar em dinheiro ou serviços, separamos os dois e olhamos apenas apoios em dinheiro. Abaixo, cada ponto é o que uma pessoa física doou em dinheiro para a campanha de um dos candidatos de João Pessoa. Clique nos pontos para ver os detalhes.
Cida recebeu doações de mais pessoas. Porém há uma diferença perceptível nos valores na outra direção. Luciano Cartaxo tem um bom número de doadores que contribuíram mais de R$10 mil para a sua campanha, enquanto a campanha de Cida é feita de doações menores. A doação média das pessoas físicas na campanha de Cartaxo é hoje R$8.900,00; na de Cida, pouco menos de R$2.400,00.
Não conhecemos todos que doaram para os candidatos, mas dois nomes dentre os que doaram bastante para Cartaxo saltam aos olhos: Daniella Bandeira e Socorro Gadelha são secretárias da prefeitura de João Pessoa e doaram R$15 mil para a campanha de Cartaxo.
Uma das modalidades de arrecadação este ano é com doações via internet. Nessa modalidade, o eleitor doa diretamente para seu candidato, de casa. O Rio de Janeiro é a única cidade onde esta forma de participação do eleitor parece ter realmente dado certo. E apenas na campanha de Marcelo Freixo. Em São Paulo, Haddad conseguiu algumas centenas de doadores, mas bem menos que Freixo. Esses são os candidatos (em todo o país) a prefeito que mais receberam doações por internet:
Além desse fato, a composição da receita de campanha dos demais candidatos também é bastante diferente de Campina Grande. Tem algumas semelhanças com João Pessoa.
De maneira geral os candidatos não investem tanto em suas campanhas, e dependem de partidos. O líder nas pesquisas, Crivella, praticamente não recebeu verbas de pessoas físicas, enquanto a campanha de Marcelo Freixo é composta em quase metade de verbas de pessoas físicas, principalmente pela Internet.
Vendo proporcionalmente, fica ainda mais claro como alguns candidatos não tiveram apoio financeiro de pessoas físicas. Toda a verba de Flávio Bolsonaro, e quase toda a verba de Crivella vieram de seus partidos.
(Adicionado 25/9 21:30)
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